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Descripción
O uso da força de trabalho na produção e circulação das mercadorias está sendo objeto de grande transformação com o avanço da indústria 4.0, da internet das coisas e da inteligência artificial (IA. A potencialidade que essa transformação encerra em termos de poupança do trabalho humano é tal, que podemos dizer que a oportunidade de trabalho tende a se restringir a poucos, ficando a imensa maioria de população excluída das atividades organizadas pelo grande capital.
A discussão sobre se os processos de automação resultam ou não em redução do emprego da força de trabalho não é de hoje. Está colocada de forma explícita pelo menos desde o século XIX, quando os trabalhadores ingleses dos ramos de fiação e tecelagem quebraram as máquinas em defesa de seus empregos e de melhores condições de trabalho, no movimento que ficou conhecido como ludismo. De lá para cá, muita coisa aconteceu, modificando profundamente os processos de trabalho. No século XX, especialmente no período posterior à Segunda Guerra Mundial, vivenciamos a incorporação generalizada dos princípios tayloristas e fordistas tanto na produção como na esfera da circulação. Mas também foi nesse século, como reação ao esgotamento relativo da organização do trabalho fordista, que assistimos à rápida introdução de máquinas e equipamentos com base técnica na microeletrônica nos locais de trabalho, e à adoção do que ficou convencionado chamar de automação flexível. No momento atual, algo novo está ocorrendo. Não estamos vendo um simples aumento do grau de automação dos processos e das atividades. O que está se passando nos ambientes de trabalho não é um mero aumento quantitativo de tecnologia. As mudanças são qualitativas.
Não se trata de outra tecnologia, e sim do desenvolvimento daquilo que se convencionou chamar de Terceira Revolução Tecnológica. A grande novidade reside na integração das distintas tecnologias já existentes e no fato de seu uso resultar em soluções distintas daquelas que prevaleciam até então. São essas características que definem a indústria 4.0, por exemplo. Essa integração também está estreitando a relação entre a produção e o consumo. No caso da IA, algo de novo está sendo gestado. A concessão de autonomia ao equipamento no processo decisório é algo qualitativamente diferente do que vimos até agora. Seu significado e seus impactos, não somente econômicos e sociais, mas também na subjetividade humana, são questões que deverão ser objeto de muita discussão no futuro, na medida em que avanços ocorrerem em seu campo.
Resta saber se o aumento da produtividade prometido pelas novas tecnologias, algumas ainda em desenvolvimento, terá como efeito reverter a trajetória descendente da produtividade total das economias, isto é, se seu potencial terá concretude. Enquanto isso não acontece, vemos que o resultado da reestruturação, que apenas está em seu início, é o aumento da demissão dos trabalhadores que ainda tinham empregos junto ao mercado de trabalho formal. A contradição do que estamos vivendo é que as tecnologias disponíveis, caso fossem um bem comum e não uma propriedade de poucos e usada como meio de valorização do capital, permitiria garantir a produção necessária para o atendimento das necessidades humanas e a redução substantiva da jornada de trabalho. Ao mesmo tempo, as mudanças que têm provocado no mundo do trabalho concedem importância à proposta de renda básica ou garantida. Na hipótese do segmento de excluídos (o que é diferente de desempregados) continuar a aumentar, há que socializar os ganhos do aumento da produtividade mediante a concessão de renda para todos, que garanta, inclusive, o lazer e a cultura. Em outras palavras, que garanta não só a sobrevivência, mas a plena sociabilidade.
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